21 de fevereiro de 2014

Acolhimento de bruxas


 Em 2003, uma parceria do INAC com a Save the Children e Christian Children Fund implantou uma rede de protecção da criança, na qual participaram agentes comunitários responsáveis por prevenir, detectar e resolver localmente casos de crianças acusadas de feitiçaria ou submetidas à violência, através de aconselhamentos às famílias e comunidades locais.
Já no Uíge, a perseguição às crianças está em ascensão. Na região, trata-se de «uma ocorrência muito comum nas aldeias. Sabemos que algumas crianças foram mortas», revela o bispo Emilio Sumbelelo, da Igreja Católica de São José.
A Igreja gere o único abrigo da aldeia para as crianças que são vítimas de perseguições como supostas bruxas. Num reduzido espaço, três dezenas de rapazes foram acolhidos. «Chegam muitas crianças em busca de protecção, mas infelizmente não dispomos de mais espaço», diz Emilio Sumbelelo. «Até agora, ainda não descobrimos maneira de combater este problema», lamenta o bispo.

Próximo da capital Luanda, cerca de 40 crianças angolanas, acusadas de serem feiticeiras, foram retiradas pela Polícia Nacional de duas igrejas ilegais em Sambizanga, onde se encontravam para serem curadas do mal. Os líderes religiosos das igrejas foram detidos na operação de resgate dos menores. Segundo o administrador municipal de Sambizanga, Tavares Ferreira, as crianças, com idades entre um e 15 anos, encontravam-se presas em duas casas que serviam de igrejas. «As crianças sofreram maus-tratos e foram castigadas», disse Tavares Ferreira. «O mais chocante é que foram os próprios pais que levaram os filhos para estas igrejas. Há crianças que estão nesses locais há mais de um ano e temos a informação de que aos fins-de-semana chegam a aparecer nessas igrejas cerca de 500 crianças», frisa.
Tanto o Governo angolano como as organizações da sociedade civil e as Igrejas, com destaque para Católica, têm apostado no combate a estas práticas por meio de campanhas de sensibilização, criação de centros de acolhimento e ainda na perseguição aos autores desses crimes.